Santos cervejeiros

Durante a peste obscura
Arnoldo, o beneditino
Mergulhou a cruz sagrada
Na água com levedura
Que afastava, por fervida
A morte, trazendo a cura
E por tão bendito gesto
Santificada a bebida
Deus nos cedeu a cerveja
Para alegrar a vida.

Quando morreu Santo Arnulfo
Apareceu tanta gente
Que a cerveja, de repente
Acabou, gerando arrufo
Mas tudo se resolveu
Quando humilde taberneiro
Uma garrafa encontrou
E o copo que foi enchido
Pelo milagre ocorrido
Bebido, jamais secou.

Dizem que Santa Hildegarda
Que das plantas conhecia
Sugeriu ao povo, um dia
Como quem não alaparda
Um fruto de trepadeira
Tão minúsculo, ora veja!
Mas capaz de conservar
Todo frescor da bebida:
O lúpulo p´ra cerveja
É o pulo que dá a vida.

Entre a verdade e a lenda
Tem mais santo cervejeiro
Que é grande a contenda
Sobre quem foi o primeiro:
Venceslau ou Columbano,
Santo Agostinho em parelha
São Jorge em luz vermelha
No botequim, feito igreja
Que até me sinto santo
Depois da quinta cerveja

Sem temer fealdade
Distante da heresia
Eu rezo todos os dias
Ao céu por tanta cevada
E constato que a gelada
Em diáfano papel
Profana o que é sagrado
Sacralizando o profano:
Cerveja humaniza o santo
Santificando o humano!

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Luiz Antonio Simas

É carioca, filho de mãe pernambucana e pai catarinense. É professor, historiador, escritor, educador e compositor, com trinta anos de experiência em sala de aula. É bacharel, licenciado e mestre em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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